terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Dar tudo pelo Sporting

Entendamo-nos: os atletas do Sporting (formados no Clube, ou contratados no exterior) têm por objectivo vencer todas as provas em que participam. Vencer não é um favorzinho que prestam à malta. Vencer é um dever. É para isso que lá estão e é isso que em qualquer circunstância têm de tentar fazer sem esperar outra consolação que não seja a de serem portadores dos louros da vitória.
Se vencem não fazem mais que o seu dever. Se não vencem teremos então de nos interrogar sobre as causas dessa incapacidade e encontrar os responsáveis.
Existe um conjunto de variáveis muito complexo a intervir em todo este processo.
Antes de uma equipa entrar no terreno de jogo observamos a existência de uma série de factores que influenciam todo o processo até chegar a esse ponto. Antes de pisar o terreno de jogo houve que estabelecer os vínculos contratuais com os diversos agentes intervenientes, pressupõe-se que terá havido o cumprimento atempado dos termos a que esses vínculos obrigavam, terão sido proporcionadas as necessárias condições de trabalho, terá sido posta em prática uma organização para todo este complexo humano e, finalmente, terá sido montada uma estratégia desportiva e terão sido criados procedimentos técnicos que irão dar expressão no terreno a toda esta organização.
Apesar da complexidade deste processo, ele é estruturado para a vitória e, portanto, é isso que todos legitimamente esperam: vitórias. Quando se monta uma estrutura complexa como é um clube desportivo o objectivo é vencer. A organização, as condições de trabalho, a estratégia e a tática desportivas vão nutrir o desejo e a vontade de vencer, mas vencer é o único objectivo.
Os jogadores estão na equipa para dar cumprimento a este desiderato. A motivação e o desejo de vitórias são corolários naturais da sua inserção numa estrutura desta natureza. Ter vontade de ganhar não é nenhuma capacidade de super herói que se pede aos jogadores. É a condição imediatamente decorrente da sua participação numa estrutura desta natureza.
Estes factores afectam todas as equipas por igual. Mas, não há campeonatos de contratos, nem de organização de departamentos de futebol. Há campeonatos de modalidades desportivas. A organização, a estratégia, as condições de trabalho têm que estar presentes para que o fim último da competição desportiva possa ter lugar.
O desequilíbrio nasce do factor desportivo e atlético e, se estiverem asseguradas as condições de funcionamento da máquina são estes os factores que vão garantir a superioridade.
Num despique desportivo, disputado dentro das regras, só é legítimo aceitar a derrota por razões de superioridade desportiva e atlética do oponente. Não se pode aceitar a derrota por falta de organização, nem por falta de condições de trabalho, nem por incumprimento de contratos. Nem se pode aceitar, tão pouco, a derrota por desmotivação dos atletas em virtude de uma qualquer falha de alguns dos factores que referi.

Falo em tudo isto porque, no caso do Sporting , quando desmontamos as sucessivas etapas deste processo só podemos chegar a uma conclusão. Uma conclusão importante e de grande alcance que me tem, particularmente a mim aqui no KL, preocupado e merecido as mais duras, e creio que justas, críticas aos responsáveis. É que o Sporting falha no capítulo da organização em toda a linha. Esse é um assunto sério. Esse é o assunto sério!
Mas, daqui decorrem dois equívocos.
O primeiro equívoco é este: é que as falhas do Sporting são, sobretudo, resultado de erros de estratégia. Os erros operacionais são secundários. Ou seja: parece hoje absolutamente claro neste Sporting que todo o processo --antes de chegar ao terreno de jogo-- está inquinado. E sem condições os jogadores não poderão fazer jus às suas mais valias desportivas e atléticas.
Contudo --parece contraditório, mas não é--, há um segundo equívoco: é que os jogadores não têm de facto desculpa. Não! Os jogadores têm de jogar e têm de ganhar! Não estão lá para outra coisa. Não há nenhuma heroicidade especial no facto de os atletas do Sporting lutarem porque o Sporting está montado para ganhar.
Não são, nesta ordem de ideias, aceitáveis falhas nas opções estratégicas e na organização, mas tão pouco é aceitável que um atleta ambicione outra coisa que não seja lutar para vencer. Não sei se me faço entender...
As falhas sucessivas no cumprimento de objectivos e a quebra constante de expectativas perante os juízes finais de todo este processo --os Sportinguistas-- não podem pois ser atribuídas a mais ninguém a não ser os que têm realmente o poder de condicionar esse processo à partida. Mas, quem tem a incumbência de cumprir os objectivos no terreno também não está isento de culpas porque está lá para dar o seu melhor.
São todos responsáveis!
Os erros de estratégia das direcções Sportinguistas acumularam-se até atingirem o limite do suportável e daí que se fale, legitimamente, em crise. Não é, de todo, aceitável disfarçar a derrota virando a cara para o lado, como não é tão pouco aceitável que se vá andando com a brisa, estabelecendo objectivos conforme os resultados que se vão obtendo.
Mas, também não é tolerável ver um jogador que não dá tudo o que tem pelo Sporting.
Quando os adeptos assobiam um jogador ou uma opção do treinador é a constatação de tudo isto que está em causa. Os adeptos são os juízes. Não substimemos a sua capacidade crítica e a justeza das suas observações. Um assobio ou uma pateada são sinais. E temos de ter em conta esses sinais também...
Amanhã, se o Sporting ganhar e passar mais esta etapa dos seus "objectivos B", não está a fazer mais do que cumprir o seu dever. Digo-o assim sem paninhos quentes, de forma dura e com franqueza. Mais do que a famigerada “tranquilidade” o que precisamos é de determinação e desejo de vencer. Sem desculpas, nem subterfúgios. Esta é uma verdade válida para qualquer ciclo, velho ou novo.
Se cumprir o seu programa, se mostrar desejo e determinação para atingir a vitória, não faz mais do que aquilo que todos esperávamos que fizesse. Se não cumprir voltamos de novo à estaca zero da nossa conversa e vamos ver quem falhou...