segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Um problema duplo

O problema do Sporting é duplo.
De um lado, o problema do Sporting é o problema do futebol português. Nele impera a escola de gestão de mercearia, a confusão ou falta de princípios, os oportunismos, as promiscuidades, os canibalismos (quando olho o futebol português vem-me à ideia aquela caricatura do Bordalo chamada "Política")... Por tudo isto passa hoje o futebol português (a tudo isto reagiu o futebol inglês, o espanhol ou o italiano, por exemplo, com os resultados que todos podemos apreciar hoje) e tudo isto se reflete nos clubes que dele fazem parte.
Mais: o panorama do futebol português reflete afinal o panorama... português!
Por outro lado, o problema do Sporting é também... o próprio Sporting. Depois de tanta expectativa o Sporting está hoje, por diversas razões, francamente aquém do que imaginámos quando foi lançado o chamado "Projecto Roquette", como por diversas vezes referi aqui no espaço do KL. Neste sentido, creio que o problema do clube se situa nos planos da direcção e da organização das estruturas do poder.
Para superar tudo isto, o Sporting tem de construir uma solução directiva própria, inovadora, com novas estruturas e mais democracia, que possa servir, simultaneamente, de figurino para um novo futebol português. Aí está um desígnio digno de um clube com a grandeza e os princípios do SCP. Os problemas que nos afectam desaparecerão, certamente, se e só se este binómio for resolvido.
Depois iremos então ver quem ganha no terreno de jogo. Até lá tudo isto é uma aldrabice!

Gestão amadora

Depois da desempoeirada e saudavelmente descomplexada exibição que o nosso Sporting, lá fui eu no sábado comprar um jornalito desportivo para acompanhar a bica matinal e o croquete, ali na Cristal.
O Record vinha com uma revista chamada “Dez” onde o Mourinho escreve um artigo com o título Hotel Chelsea (toma lá ó Leonard Cohen…).
Dois temas chamaram-me a atenção na crónica semanal do Mourinho em que o Sporting dominou os seus comentários.
Num, a referência muito positiva ao comportamento do Paulo Bento (mesmo sem saber do resultado e exibição nas Antas), elogiando-lhe a honestidade e a frontalidade para assumir os desafios e a coragem com que tem gerido a disciplina no caso Liedson.
Noutro ponto, colocando em causa a competência da gestão da SAD a propósito do aparecimento do Nani.
Diz ele que um dos objectivos de qualquer clube com a dimensão dos Portugueses é criar talentos nas suas escolas para depois os vender criando mais-valias.
Ora ele lembra, e bem, que poucos clubes no mundo têm sido tão bem sucedidos nesta matéria; lembremo-nos que em menos de 10 anos produzimos o Simão, o Quaresma, o Hugo Viana e o Cristiano Ronaldo, todos eles vindos das camadas mais jovens e vendidos por valores sempre na ordem dos milhões de contos.
Pergunta-se ele, e com razão, que gestão é esta que produz mais valias deste calibre e depois não consegue apresentar contas estruturadas (de que os últimos casos são apenas mais uma demonstração) e resultados financeiros sólidos.
Temos que nos perguntar também o que se passa. Se produzir um jogador de 2 ou 3 milhões de contos de 2 em 2 anos não chega para sustentar o clube, que raio haveremos de fazer?
Que despesas justificam este descalabro (num clube que se orgulha de ter uma massa salarial baixa para a média dos clubes do seu estatuto)?
Se temos as melhores afluências de público da Super Liga, se temos a melhor taxa de êxito na venda de lugares anuais, se temos a melhor e de longe mais rentável escola de formação do País, e nada disto chega, para onde é que vamos?
Se cumprimos todos os objectivos financeiros do ponto de vista das receitas e até excedemos as expectativas com a arte de inventar estrelas, como é que chegamos a este ponto?
Se apesar de tudo isto há dívidas ao fisco e necessidade de venda de património e urgência de encontrar presidentes mecenas, não estará o problema na gestão amadora das finanças do clube?

Clique...

Em jeito de comentário ao post anterior, gostava apenas de dar conhecimento que hoje o Público traz em separado pelo simpático preço adicional de 6 €, uma publicação da BBC Natural World, com o título "Leões, um bando em risco."
Talvez a leitura de tão ecológica publicação sirva de inspiração a esta pequena clique que vai teimando em governar o Sporting...