terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Sporting no começo da época

Os inícios de época são sempre um pouco traiçoeiros, no que respeita à avaliação do valor da equipa. Mas vou arriscar algumas considerações.

Stojkovic
O que dele vi quando se soube que vinha para o Sporting levou-me a pôr reticências quanto à valia da contratação. Pois, pelo que já vimos em diversos jogos de preparação e no jogo da Supertaça, dá para ficar mais optimista. Enorme, ágil e com bons reflexos, bom a jogar com os pés, são características que o definem como um bom guarda-redes. Defendi várias vezes Ricardo na presunção de que, apesar de não achar que ele fosse um grande craque, não seria fácil arranjar quem fosse melhor que ele. Ora, não só se encaixou algum com Ricardo, como se arranjou dum dia para o outro (assim pareceu, mas revela um bom trabalho que não se viu na época passada) um substituto à altura das necessidades do Sporting.

Izmailov
Vem com fama de jogar bem à bola, mas parece que no Lokomotiv teve problemas disciplinares. Às vezes a mudança de ares ajuda a resolver este tipo de problemas (esperemos que tal venha a acontecer também com Carlos Martins a quem pode faltar tudo menos talento e que cá já não ia a lado nenhum), e quem o contratou apostou nisso mesmo. É indiscutível que o russo tem talento, como o demonstrou o excelente pontapé que derrotou o Porto. Mas, há outro tipo de disciplina quanto ao qual ele tem muito que aprender: a táctica, aquela que se deve ter dentro de campo. Tem de saber defender, sobretudo em termos dos espaços a ocupar, para ser uma mais-valia nesta equipa do Sporting. Contra o Huelva entrou na segunda parte para o lado esquerdo do meio-campo. Esteve em todos os sítios do campo menos aí, o que deixou a equipa coxa. Contra o Benfica e contra o Porto Paulo Bento insistiu nele, mas colocou-o do lado direito do losango, derivando Moutinho para a esquerda. De facto à esquerda é que não dava mesmo, e PB viu isso muito bem. Devo dizer, no entanto, que concordo com a insistência de PB na sua utilização, porque espero dele progressos no aspecto táctico.

Derlei
Trata-se do tipo de contratação em relação ao qual já por diversas vezes aqui manifestei discordância. Tirando algumas honrosas excepções, entre as quais avulta o caso de Acosta, jogadores de carreira já feita, vêm normalmente para ganhar mais umas massas enquanto aquilo está a dar. Comecei, no entanto, a ter mais algumas esperanças em que esta contratação venha a dar alguns frutos. Essa esperança baseia-se não tanto na eficácia enquanto avançado, mas na conhecida combatividade de Derlei que, se ele tiver motivação e ela se vier a confirmar em campo, pode vir a complementar o jogo de Liedson, assim constituindo uma forte primeira barreira defensiva no primeiro terço do campo. Os indicadores quanto a este aspecto do jogo foram razoáveis, nestes primeiros jogos da época.

A organização da equipa
O modelo e o sistema de jogo mantêm-se, o que é uma, já esperada dadas as convictas afirmações nesse sentido de PB, boa notícia. Quanto ao sistema, pode-se considerar que pode mesmo vir a haver um aumentar das suas capacidades com a utilização de Purovic, o que, aliado ao já referido bom jogo de pés de Stojkovic, permite o jogo directo, em jogos em que haja necessidade de dar a volta ao resultado. Romagnoli terá, espera-se, o ano da confirmação como elemento mais avançado do losango, com alguma pena minha pois é o lugar de eleição de Moutinho; mas este, com a sua versatilidade e disciplina táctica (muitos não repararam que o facto de Rony não ter comprometido no jogo com o Porto se deveu à sempre presente ajuda de Moutinho e acharam que este teve exibição discreta) é quem tem de jogar do lado esquerdo. A defesa, em que as coisas ainda não ganharam contornos definitivos, é que me parecem residir os maiores problemas de pré-época. Os adeptos têm de, de uma vez por todas, agora que não há Caneira, deixar de pôr reticências quanto ao comando de Polga no sector; é o mais velho e experiente, deixou há muito tempo de protagonizar actos de indisciplina e, sem ser excepcional, é bom jogador (sim, eu sei, falhou mais uma vez no lance do golo contra o Benfica, mas mesmo os melhores centrais falham uma ou outra vez).

A atitude
Não gostei nada que tivéssemos jogado para o empate a partir de determinada altura do jogo com os lamps. Fiquei até com intenção de assacar, por escrito, responsabilidades disso ao treinador. Resolvi, entretanto, esperar pelo primeiro jogo a sério, e ainda bem. Concordo com Master Lizard quanto ao bom estado de espírito que se vive na equipa e que se traduz numa boa atitude em campo. O que é consentâneo com o discurso, levando a que se possa pensar que o que se passou no jogo contra o Benfica se deveu mais a uma atitude circunstancial dos jogadores, que o treinador fez corrigir no jogo contra o Porto. Vejamos, então, o discurso, cheio de recados, pela boca de Paulo Bento: «Os jogadores estão a habituar-se vencer coisas, o que é muito bom e não sucedeu durante algum tempo. Esta noite jogaram com a entrega do costume e foi bom ver que essa forma de estar foi passada por quem estava aos que chegaram, que a interiorizaram. Mas agora é preciso perceber que o campeonato está aí e que o primeiro jogo traz sempre ansiedade. É preciso ter a cabeça no sítio e os pés no chão para encarar da forma correcta o jogo com a Académica, na sexta-feira».

Assim vamos mal...

A agitação em torno da questão Rui Santos parece ridícula e despropositada. Ou a SAD esclarece o que motivou exactamente este ataque de hiper-sensibilidade, ou somos forçados a pensar que se trata de outros valores. O Sporting Clube de Portugal não pode dar estes ares de insegurança e imaturidade.
Mal vai o Sporting ao projectar esta imagem pateta e disparatada de instituição tipo Securitate à Ceausescu...