quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A sobrevivência da espécie

Deixem-me tentar aqui também fazer um pequeno exercício de "demographics", simplista é certo, e muito ao jeito daqueles de que a malta do marquetingue tanto gosta. Não se conhece nenhum estudo sério sobre o que é ser Sporting hoje. Dos estudos que, pretensamente, terão sido feitos não se lhes apurou nunca a origem, a legitimidade, nem quaisquer conclusões significativas e sabe Deus por quem e como foram feitos... (1)
Olhando para o universo do Sporting hoje apercebemo-nos que existe uma grande diversidade de modos de "ser" Sportinguista. Não é um problema e cada um de nós tem o direito de ser como é. Como não quero ferir susceptibilidades (2) vou apenas distinguir aqui três categorias. Há os fanáticos indefectíveis, que vão a todas (incluindo aqueles que fazem e, certamente, aqueles que lêem o KL...), que contra ventos e marés foram, são e serão sempre do Sporting, se preocupam e vivem apaixonadamente o Clube. Há também aqueles que proclamam o seu Sportinguismo por uma razão qualquer fútil ou incompreensível. Gente como a Laurinda, por exemplo, de quem falei há uns tempos, que se diz do Sporting, mas que nunca meteu os pés no estádio porque o acha feio... E há gente que, embora sendo efectivamente do Sporting, dificilmente aguenta a tortuosidade da condução dos destinos do Clube, está atenta ao que se passa nos outros clubes, gosta de desporto e, sobretudo, gosta de futebol. Gente que olha, simplesmente, à sua volta e compara.
Ora os fanáticos não chegam (aparentemente) para pagar o défice (3), os "laurindos" não riscam e os "comparadores" vão-nos vendo sistematicamente a passar ao lado da passerelle da grande gala do futebol.(4) Também vão observando e constatando que em ano de grande agitação por causa do processo do Apito Dourado, em ano de olhares certamente mais atentos, o clube lá do norte vai dando um bigode de todo o tamanho em todas as frentes aos seus pobres rivais. "Não jogamos para meio prémio," diz o treinador. Se calhar o "sistema" não explica tudo...
Há mais destes "comparadores" do que se supõe. Gente assumidamente Sportinguista, com grandes disponibilidades, reais ou potenciais, mas com convicções clubísticas mais, digamos, pragmáticas... Gente que olha para a "oferta" sportinguista e faz contas... Gente que, se calhar, vamos perder para o inimigo. Se nada for feito, o que se passa hoje com os jogadores feitos no Clube --que estão no Sporting em trânsito...-- há-de vir a passar-se com os adeptos.
Sem vitórias, sem receitas (5) e com um mercado a encolher por causa das vitórias e do glamour dos outros o que vai ser do Sporting? O Sporting não segura os seus jogadores e arrisca-se a não segurar os seus adeptos.
Que futuro nos espera? Já pensaram nisso?
A "campanha de novos sócios" ganha-se ganhando.
A menos que o Sporting promova um outro tipo de campanha... Uma campanha de aumento da natalidade junto dos indefectíveis e dos fanáticos para ver se temos mais nados sócios e conseguimos assim ir assegurando a sobrevivência da espécie...


(1) Certamente por alguém que, ou a) se reclamou do Sporting, fez umas cadeiras de um desses cursos que vão contribuir para vender imensos sabonetes e se abalançou a fazer o trabalho, ou b) um amigalhaço qualquer, igualmente incompetente, que não era do Sporting e viu nisso a oportunidade de esmifrar umas massas ao Clube.
(2) Embora mais cedo ou mais tarde esta questão tenha de ser encarada de frente e trabalhada de forma séria.
(3) Será caso para ver...
(4) Embora vejam alguns jogadores na passerelle...
(5) A propósito de receitas, gostava de saber qual foi a receita do jogo com o Louletano. E se foi aquilo que eu penso que foi gostava de saber qual é a legitimidade de invocar, no caso do Iordanov, o argumento das despesas que uma partida de futebol tem no novo estádio. Será que a SAD pensou nisso no caso do jogo com o Louletano...?