domingo, 24 de fevereiro de 2008

Back to the future IV?

Carlos Carvalhal afirmava no final deste Setúbal-Sporting que foi um jogo de sofrimento, porque para jogar com o Sporting tem que se sofrer sempre. Ó Carlos Carvalhal como eu o compreendo! É o treinador do Vitória a sofrer e eu...
Tão novinhos e já não conseguem sequer dar cinco seguidas. Por falar em cinco seguidas, esperemos que este não tenha sido um jogo de contenção de forma a garantir o próximo objectivo...

Casa de espelhos

Recentemente, surgiu uma série de iniciativas com origem no universo Sportinguista que merecem toda a atenção e respeito. Destaco a União dos Blogues Leoninos, uma iniciativa do blogue O Sangue Leonino, que conta já com cerca de uma dúzia de adesões, o Leão de Verdade, movimento criado em torno do "Manifesto SCP Mais e Melhor Sporting" e, mais recentemente, a iniciativa “Pensar Sporting!” dinamizada pelo grupo Ofensiva 1906.
Confesso que tenho sentimentos contraditórios em relação a todas estas iniciativas. É justo sublinhar que, por um lado, o que tudo isto revela, em primeira análise, é um grande dinamismo, um grande fervor clubístico, uma grande vontade de particpação na causa Sportinguista e um assinalável espírito de inciativa. Espelham também um louvável desejo de acção e um cansaço com a retórica que é de saudar. Raramente se vê na sociedade portuguesa um empenhamento colectivo deste género. Por aí o Sporting está a dar 100-0, não só aos rivais, mas também às outras associações, desportivas ou não, e estruturas democráticas do país. Se o que se observa no Sporting fosse a regra, teríamos certamente um país mais solidário e uma intervenção dos cidadãos bem mais participativa. O que se passa no Sporting hoje deve, em particular, merecer uma atenção especial dos políticos. Os Sportinguistas não andam a dormir e querem demonstrar que não estão dispostos a deixar a resolução dos seus problemas em mãos alheias. Perante os apelos que recentemente até o mais alto dignitário do país fez aos portugueses, aqui está um exemplo (que devia ser exibido!) de um fortíssimo sentimento contra a resignação...
Mas, (e há sempre um mas...) todos estes movimentos me deixam também um pouco preocupado. No meio do fervor temos de ver que terrenos andamos a pisar. Podem estar armadilhados...
O Sporting é uma instituição centenária que foi fundada com base em determinados princípios que estão hoje consignados de forma clara nos seus Estatutos. O Sporting não é uma associação de jeitosos feita em laboratório, nem provém de nenhum ensaio clandestino feito em proveta. O Sporting é uma instituição, legal, com orgãos de poder eleitos, com regras de funcionamento aprovadas de forma democraticamente irrepreensível, com uma legitimidade histórica acrescida e com um peso considerável na sociedade portuguesa.
Volta não volta, uns quantos aventureiros tentam tomar conta do curso dos acontecimentos. Mas, os Sportinguistas têm sabido reagir. As eleições são isso: reacção! A dinastia Roquette e a actual direcção são isso: reacção!
O modus operandi do Sporting vai, mas os princípios do Clube ficam. Sucedeu isso com anteriores direcções e vai suceder isso com esta, com toda a certeza.
Ora, quaisquer iniciativas para mudar o curso dos acontecimentos no Sporting têm de ser tomadas à luz do sistema de funcionamento legal do Clube. Não é isso que está a suceder.
Não quero dizer com isto que não haja intervenção, bem antes pelo contrário. Quero dizer é que face a esta realidade que é a capacidade de intervenção dos Sportinguistas se constata que a fórmula organizativa do Clube não satisfaz e que os Estatutos já não refletem essa mesma realidade. Há pois que pugnar pela mudança dos Estatutos.
Já há muito tempo que propus a criação de um orgão regulado estatutariamente que permita uma maior intervenção dos Sportinguistas na vida do Clube. Uma espécie de Senado, de Assembleia, de Conselho, como lhe queiram chamar, com poder deliberativo, não este Conselho Leonino que é um travesti de democracia! É isso que, na minha opinião falta. Uma organismo que reflita a pluralidade dos Sportinguistas, mas que garanta a sua unidade num quadro de absoluta legitimidade das suas iniciativas. A realidade actual diz-me que esta ideia está correcta. Este é o programa para uma candidatura!
A impossibilidade de intervir gera descontentamentos e feridas insanáveis no seio do universo Sportinguista. O erro principal do "projecto Roquette" foi não ter incorporado a intervenção dos Sportinguistas nos seus planos, depois de ter metido o Sporting por novos caminhos, sobretudo, no plano da sua reorganização "comercial". Os resultados estão à vista.
Mas, estas inicitiavas, que agora vêem a luz do dia, por muito louváveis que sejam, sem desprimor para os seus proponentes e sem colocar em causa a bondade da sua criação, não podem gerar o contrário: intervenção dos Sportinguistas sem regras! Desta forma arriscamo-nos a ter um Sporting tipo casa de espelhos, em que para onde quer que nos viremos, vemos milhentas realidades refletidas nas paredes e não sabemos a origem dos objectos que refletem essas imagens...
Ao lançar todas esta iniciativas os seus autores têm de estar conscientes que estão provocar clivagens, que têm de ter uma qualquer resolução no seio do Clube. De outra forma arriscamo-nos também a ter um Sporting 1, um Sporting 2, ou 3 e por aí fora. O louvável poder de iniciativa demonstrado pelos Sportinguistas não pode servir para escaqueirar ainda mais a unidade necessária.
O objectivo é entendermo-nos todos, não destruir o UM que é o Sporting, nem substituir uma elite por outra! Para elites já dei...
Temos de enquadrar todas as inicitivas, de todos os legítimos grupos de sócios num quadro de regras sem mácula.
E há, finalmente, que distinguir também muito claramente uma outra coisa: eu não sou adepto do Sporting! Eu sou sócio do Sporting! Os adeptos que se organizem. A mim cabe-me participar na vida do Clube no quadro definido pelos seus Estatutos.
Fá-lo-ei sempre, se me deixarem, se quiserem contar com a minha opinião e se existirem mecanismos que o permitam fazer.
O pior é se eu continuo a pagar as quotas e não me deixam dar, ou não querem que eu dê a minha opinião porque há sempre uns iluminados que decidiram que sabem mais do que eu...