sábado, 23 de setembro de 2006

Moralização; falar em voz alta!

Quanto aos casos de corrupção que grassam no futebol português parece que, no meio do ruído todo que está a haver, os dirigentes do Sporting decidiram manter-se na expectativa. Pensaram que a sua voz seria mais uma a juntar-se às outras, tudo a dizer a mesma coisa: ‘é preciso uma varredela nos dirigentes’, ‘o processo do apito está todo a esvanecer-se e todos ficarem impunes’, ‘as arbitragens estão uma lástima’, etc.. Todos identificam o(s) problema(s), mas ninguém sabe qual a solução (pelo menos ninguém aponta medidas concretas). A posição do Sporting iria acrescentar alguma coisa a este inconsequente coro?
Não será melhor o Sporting ficar, para já, caladinho e afirmar-se na agenda mediática por aspectos positivos muito concretos, como aquilo que vem a fazer de notável na formação, com promoção e valorização dos putos das escolas e o extravasar da Academia dos seus muros estendendo-a a todo o país?
Esta afirmação pela positiva é certamente importante, mesmo fundamental. Mas não desculpa a falta de tomada de posição sobre o problema da corrupção que alastra no futebol português.
E estamos a perder terreno em relação aos nossos adversários. Por exemplo, Luís Filipe Vieira veio a terreiro defender que a Direcção da nova Liga padece do mal de ter nascido torta (leia-se, fruto de negociações em que participou o pessoal do antigamente) e que, portanto, tarde ou nunca se endireitará; a não ser que o seu presidente eleito e à espera de tomar posse se demita, forme nova lista de sua cabeça (sem conluios com quem tem andado a aviltar o futebol) e se apresente de novo a eleições.
Custa-me dizê-lo, por vir de quem vem, mas todos sabemos que o campeão da corrupção se mantém na presidência da AG (e não é certamente o único), e portanto o homem tem razão!
Ora, assumindo que a direcção do Sporting tem uma estratégia de moralização do futebol e das arbitragens (o que está por provar, já que não existe posição pública, até agora), por onde passará essa estratégia?
Partamos de uma declaração de Filipe Soares Franco a propósito do que o Sporting irá fazer quanto às questões que se põem quanto à arbitragem: "era premente e necessário que a Liga estivesse em funções desde o início da época". Tal declaração parece indiciar que o Sporting está à espera da tomada de posse da nova direcção da Liga para tomar posição.
Bem sei que à frente da arbitragem irá ficar um homem de quem todos têm a melhor das impressões quanto à isenção que demonstrou enquanto árbitro de futebol, Vítor Pereira. Mas será isso suficiente no seio de dirigentes arranjados em esquemas de compromisso?
É por estas e por outras que, como diz o nosso Master, o “Sporting corre o perigo de ser interpretado, no mínimo, como [tendo] uma atitude de complacência (...) com o status quo” (embora seja exagerado poder aventar-se “um pacto” com esse status quo).
O Sporting deve “ser o motor da mudança da face do futebol em Portugal”.
Portanto, por mais acordos que tenha feito nos bastidores com os futuros mandantes, não pode ficar calado quando coisas da gravidade de um “apito dourado” se estão a passar nas barbas de todos nós.
Não deve é ser mais um a ‘bater no ceguinho’ fazendo queixinhas; tem de propor soluções concretas para estes problemas tão graves, publicamente, à frente de todos nós, adeptos do futebol.