Há conceitos que, de tão ouvidos, acabam a ser repetidos sem que os seus pregoeiros pensem muito no seu real valor. O conceito de marca ligado a um clube é um deles. Ouvimo-lo papagueado a toda a hora.
Sei que vou provavelmente chocar os leitores mais sensíveis, mas "chavões" como este, para mim que sou mais pão com manteiga, não passam de puro vácuo.
O que é a "marca" de um clube? O que é a marca Sporting?
Os especialistas definem marca como um nome, um emblema ou um esquema conceptual associado a um produto ou serviço. Mais dizem estes especialistas que uma marca é a materialização simbólica de toda a informação associada ao produto ou serviço e que o símbolo serve para criar, em volta desse produto ou serviço, um conjunto de associações ou expectativas. Por mim, sinto-me confortável com esta definição. Mas encontro aqui conflitos insanáveis com a interpretação que do conceito é feita pelos especialistas em marketing do futebol, nomeadamente do Sporting. Estes especialistas estão, na minha humilde opinião, redondamente equivocados e andam a destruir o nosso Clube e a dar cabo desta nossa paixão.
O que estes especialistas em marca que trabalham no futebol têm feito até aqui mais não é que pegar no ferro em brasa e aplicá-lo, brutalmente, sobre a pele do produto que nos querem à viva força impingir. Assim "marcado", o produto passa de forma enganadora por ser aquilo que a gente quer.
Sobre este assunto da "marca" o nosso Manifesto contém algumas observações que peço a todos que leiam ou releiam. Deixem-me apenas colocar aqui algumas notas adicionais.
Se aceitarmos a definição de marca que deixei atrás poderemos perguntar de imediato: que produto ou serviço cria afinal o Sporting?
Uns dirão que produz espetáculos de cariz desportivo. Outros dirão que produz uma série de mercadorias que vende como forma de completar a venda dos espetáculos. Outros poderão dizer que o produto são os lugares de época. Outros dirão ainda que o produto são os talentos futebolísticos para vender nos mercados estrangeiros e nacionais. Outros pensaram que o produto Sporting era uma fórmula completa de proporcionar momentos de lazer de qualidade a toda a família, mas esse chão deu, como se sabe, uva. Outros, finalmente, dirão que o "produto" do Sporting é tudo isto.
Ora, quando se grita no estádio ao "bandeirinha" para enfiar a bandeira num determinado sítio, quando se assobia um jogador que não dá o litro, ou se aplude outro que protagoniza uma bela jogada que ajuda a garantir uma vitória importante, quando gritamos ai-ai com uma saída mal calculada do guarda-redes ou saímos em massa para comemorar uma vitória numa prova importante, quando discutimos e vibramos com as ocorrências do Clube estamos a ir muito para além do espetáculo, do simples entretenimento ou da efemeridade da compra de uma simples camisola ou de um cachecol. Ninguém salta da cadeira com o papel que os talentos do Sporting irão futuramente representar no Manchester ou no Real Madrid. E ninguém, no momento do golo, gritará entusiasmadamente sobre a mais valia que o seu marcador representa para a receita.
O produto que o Sporting vende (com toda a cautela que esta expressão deve merecer!) não é definitivamente, nem espetáculo, nem talentos, nem bugigangas! É uma postura perante a vida, materializada na competição desportiva. Tudo o que é Sporting obedece a essa premissa. O Sporting é diferente, diz-se, e se há coisa que o Sporting pode vender, ela é, justamente, essa diferença. Quem se indentificar com ela junte-se a nós.
Espetáculos desportivos, cachecóis e camisolas todos os clubes podem vender. Uma etiqueta colocada na camisola vendida na loja de artigos desportivos não é a marca Sporting! A marca Sporting é a diferença, é a nossa especificidade, são os nossos princípios e é isso que os Sportinguistas, actuais e potenciais, buscam. É por esses princípios que estão dispostos a dar tudo. É por eles que vibram energicamente. Os jogos, as camisolas, os emblemas permitem a identificação com os princípios, com o conceito, materializam-no e ajudam a suscitar as tais expectativas e associações com o produto. Mas não são o produto.
Vamos aos jogos porque somos Sportinguistas, envergamos um cachecol ou uma camisola porque somos Sportinguistas, mas o facto de os envergarmos não faz de nós Sportinguistas. Somos Sportinguistas porque temos um determinado ideário. Poderemos imaginar uma empresa que faça da venda de cachecóis ou mesmo espetáculos de futebol o seu core business, mas não lhe auguro grande futuro.
Claro que eu, pessoalmente, não concordo nem aceito facilmente que um Sportinguista seja equiparado a um cliente de supermercado. O Sporting é sagrado. Aceito que se faça chegar a mensagem de forma eficaz a todos os destinatários, actuais e potencias, mas esta sacralidade está em perigo, desvanece-se e banaliza-se com essa visão de promoção comercial em que foi transformada a nossa militância clubística.
A culpa de tudo isto, desta tendência que está a corroer e a destruir o futebol português, está nesta verdadeira aberração que são as SAD. No caso do Sporting foi a SAD, esse conceito aborto, esse logro, essa aberração, a responsável pela aceleração deste processo de degradação do nosso Clube, que transformou o sagrado Sporting numa promoção de supermercado, que escancarou a porta ao mais abjecto oportunismo e lá vai servindo para que uma meia dúzia de espertalhões encham as respectivas contas bancárias. (Continua)
Muitos parabéns pelo 101º Aniversário! ;)
ResponderEliminarParabéns ao visconde por assumir a sua orientação sexual na blogosfera! Ou melhor, a que foi a sua, porque o uso do pretérito dá a entender que agora já não é. Escolheu um mau momento para deixar de ser gay, visconde, logo agora que as camisolas do seu clube fariam tanto o seu gosto... Olhe, console-se, sempre lhe continuam a ficar as papoilas saltitantes. Num ambiente destes, não me admira nada que você tenha sido gay (será que alguma vez deixa de se ser?). E espero que, das suas práticas anteriores, não lhe tenha ficado a doer o recto e possa andar sem ser com o cu entre parêntesis.
ResponderEliminarAgora ainda mais a sério: parabéns também por ter percebido, ao contrário dos outros (ditos 5.999.999) provincianos, que o seu grande rival é o Sporting.
Entrámos portanto na "era" gay!
ResponderEliminarO Black Mamba sabia então de alguam coisa...
As preocupações expressas neste post são também as minhas. Concordo com as premissas, mas não sei se concordo com a conclusão, na qual Master se encontra com personalidades como, por exemplo, Leonor Pinhão.
ResponderEliminarNão sei, de facto, se a culpa é das SAD, ou se estas surgiram como resposta necessária ao estado a que se fez chegar as finanças dos clubes. Além de questões económicas que transcendem a vontade dos agentes do campo desportivo: as que respeitam ao desenvolvimento organizativo do capitalismo.
Mas isto é uma séria, complexa e longa discussão que vale a pena ter. A ver se consigo sistematizar o meu contributo em futuro post.
Mas, olha que no nosso Clube há gente ilustre que também não se revê nas SAD... Quanto à dama de companhia que me arranjaste (não se faria uma coisa dessas, nem a um inimigo, caraças!!) há uma grande diferença: a dita senhora é contra as SAD mas gosta do Berardo. Eu, como disse, sou mais pão com manteiga: abaixo as SAD, abaixo o Berardo e a quem os apoiar!!!!
ResponderEliminarTens razão, pá! Não se faz isso nem a um inimigo! Teve um bocadinho de veneno, apenas um pouco, mas não se faz isso aos amigos.
ResponderEliminarMas a intenção era chamar a atenção para que há todo o tipo de gente em defesa de qualquer das opções. Dito de outro modo: nenhuma das opções (a favor ou contra as SAD) é boa (ou má) em si.
Acrescento:
ResponderEliminarO assunto das SAD é para ser discutido e, confesso, não tenho uma convicção do género das que se costuma chamar certeza, sobre a sua bondade.
Duma coisa estou, no entanto, convicto: é de que contribuiram para uma certa entrada nos eixos das contas dos clubes. Pode ser que, nesse aspecto, tudo esteja muito mau; mas está certamente melhor que antes das SAD. Mas sei que esto não é um argumento suficiente para ajuizar da sua bondade, ou sequer necessidade.
Repito: é um assunto que merece ser discutido. Ainda bem que o levantaste, Master.
Caro Master,
ResponderEliminarApesar de rival, gostei bastante do teu post.
Para mim as SADs foram excelentes oportunidades para Clubes geridos por incompetentes arranjarem dinheiro (como o foram os Bingos, as Bombas de Gasolina, os contratos televisivos, etc) e de esses mesmos incompetentes encherem os bolsos.
Eu lembro-me muito bem quando o Sporting era gerido por João Rocha e o Benfica por Fernando Martins, os clubes tinham sucesso, boas equipas em todas as modalidades, enchiam os estádios e os pavilhões deste país e tinham as contas equilibradas e património.
Os anos 90 e as personagens que chegaram para gerir os nossos clubes entregaram tudo aos bancos e a empresários da pior especie.
As SADs se bem geridas podem até ser um instrumento de apoio ao clube. Uma parceria Clube-Privados. Mas nunca a salvação dos clubes como tentaram vender. Se era a salvação era porque alguêm deu cabo dos clubes.
Esperemos que o futuro seja mais claro e risonho e que a cambada que gere o futebol português desapareça e deixe quem sofre pelas suas cores em paz!
Um abraço bem VERMELHO!
Vermelhovzky
Viva
ResponderEliminarANtes que o RH venha lamentar o caso (podem colocar este comentário noutra caixa...), quero festejar a saida do RIcardo.
Eu andava fulo com a promoção a capitão do guarda redes mais desestabilizador da equipa que alguma vez vi e que nem é homem para aguentar a pressão sem lamúrias e desculpas da treta constantes, talvez o exemplo de «cabeça» que o PB gosta.
Aliás bem acompanhado pelo Polga, que chegou a recusar jogar no campeonato depois de o peseiro o não ter posto a titular na final da UEFA...
Agora que o Moutinho está mais perto da braçadeira, para a qual é o melhor dos três, ao menos a falta de referências na equipa do SCP (criada pela direcção mas tambem pelo PB) fica minorada pela saída do capitão da tremideira Ricardo. Pena é que seja mais um ano em que metade da equipa sai: Nani e Martins, ver-se-á se o talento não fará falta; Caneira (empréstimo de 5 anos, não era?) e Tello (tudo acertado...), adiante; e Ricardo - até que enfim!
Três milhões não é muito (e acho que o boavista vai receber algum), mas sempre dá para arranjar um alguém. Pena não ser o Nuno, que o FCP já levou (quem sabe, sabe...). Mas ao menos assim o SCP terá de se mexer no mercado: 1 keeper, um defesa polivalente e um avançado, pelo menos. Veremos as azelhices, claro, porque daqui o ManU leva por menos dinheiro um avançado internacional português do que o Real leva do Porto um defesa caceteiro...
Desculpe lá Raul, mas cá espero a sua leitura disto tudo,
Saudações