terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A cabeça do treinador? Era só o que faltava!

Há uma velha tendência entre os sócios do Sporting de, enervados com uma sucessão de desaires desportivos da equipa de futebol, começarem a desancar a torto e a direito. O alvo mais fácil e imediato é o treinador.
O Sporting está em período de crise desportiva (num esforço de abstracção, só vou abordar aqui esta). Ainda hoje, mesmo há bocadinho, ouvia eu Carlos Daniel, no Trio d'Ataque, perguntar ao representante do Sporting se ele achava que o treinador está em causa. Respondeu Rui Oliveira e Costa, e muito bem, que agora só o que faltava, para a crise ser total, era lançar mais uma acha para a fogueira, nela imolando o nosso treinador, Paulo Bento.
Não é que eu ache que Paulo Bento não tem cometido um ou outro erro. Mas continuo a achar que ele é o treinador indicado para o Sporting na fase actual do clube. Ele está bem longe de se incluir no lote dos principais responsáveis dos desaires da equipa esta época.
Como venho aqui reiteradamente escrevendo, as principais responsabilidades recaem nas contratações que têm sido efectuadas nos últimos tempos. E, apesar de, como escrevi no meu último post, Carlos Freitas (e com ele a prospecção do Sporting, se é que esta existe devidamente estruturada) ter uma larga quota parte de responsabilidade, já que é o dirigente responsável por essa área, não pode ser ele o bode expiatório do que se passa.
É certo que, com o orçamento disponível (em certos períodos pouco mais de metade dos dos nossos principais rivais internos) se pedia uma habilidade, um génio, redobrados, o que não se conseguiu.
Mas também é certo que, a montante, houve uma política de contenção demasiadamente conservadora. Bem sei que há um acordo com os bancos que não nos permite fazer tudo o que desejaríamos. Mas isto não serve de desculpa para a decisão sobre os gastos ter sido tão desajustada, nomeadamente nesta época. Um bom gestor é aquele que consegue um equilíbrio correcto entre a contenção financeira adequada à recuperação das finanças do clube e a necessidade de investir para garantir vitórias que permitam a continuação de obtenção de receitas no futuro. É patente que este equilíbrio não se conseguiu com os dirigentes actuais.
(Vejam como estas coisas são uma pescadinha de rabo na boca: disse que me ia centrar nas questões desportivas e já estou a falar nas financeiras.)
E, como isto está tudo ligado, aí está como a pouca disponibilidade de verbas para aquisições se tornou um problema para a obtenção de reforços capazes de garantir sucessos desportivos.
Mas, se calhar, foi melhor assim: com muita massa nas mãos o Carlos Freitas ainda era capaz de, gastando mais, não ter obtido melhor...
Agora, com os jogadores que tem ao seu dispor (tendo de jogar com Ronys e Purovics como primeira escolha, e conseguindo não deitar as mãos à cabeça ao olhar para as alternativas que tem no banco), não sei qual era o treinador que faria melhor que o Paulo Bento.

8 comentários:

  1. Caro Raúl Henriques,

    Sendo possível que me tenha falhado alguma relação de causa e efeito pelo meio, recorro a si para me certificar de que percebi o raciocínio...

    Paulo Bento dificilmente conseguiria fazer melhor com os recursos limitados de que dispõe, mas Carlos Freitas deu provas de manifesta incompetência por não ter feito melhor com os recursos limitadíssimos que tinha?

    Isto sendo certo que o próprio Paulo Bento já fez muito melhor com recursos quase tão limitados (na época passada); que um dos principais problemas de que padece esta equipa é motivacional e de atitude, situação na qual o treinador terá, certamente, a sua quota parte de culpa; e que, se puxarmos pela cabeça, somos capazes de identificar um bom par de treinadores que fazem melhor com recursos ainda mais limitados.

    E tendo como certo também (pelo menos, eu acho que tenho) que não há por aí muita gente que faça o mesmo que Carlos Freitas fez, ainda que usufruindo de orçamentos que chegam a ultrapassar o dobro do que é posto à disposição do gestor do Sporting; que não é possível, no que toca à compra de jogadores, acertar sempre; que há casos em que a contratação até faz todo o sentido, embora depois na prática não produza os resultados desejados, por qualquer que seja a razão, mas que certamente já ultrapassará a responsabilidade directa de Carlos Freitas - estou a lembrar-me, concretamente, do caso de Carlos Paredes.

    É isto? Percebi bem? Onde é que este meu raciocínio está a falhar?

    Saudações leoninas

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  2. Caro Visconde,
    São pertinentes as questões que levanta. Mas relevam de uma certeza em si arreigada de que, para boa saúde do futebol leonino, é necessário substituir o treinador.
    Eu tenho a convicção contrária: acho que neste momento isso será prejudicial ao Sporting. E não tenho a certeza de que seja "motivacional e de atitude um dos principais problemas de que padece esta equipa". Contra esta presunção está todo o jogo contra o Boavista a partir do 1º golo deles.
    E o argumento de que "o próprio Paulo Bento já fez muito melhor com recursos quase tão limitados (na época passada)" joga, quanto a mim, a favor dele. E é uma esperança minha que ele, assim como já o fez, o volte a fazer.
    Agora quanto ao Carlos Freitas é que já não há nada a fazer: ele demitiu-se. O que, como verá no post que escrevi a esse respeito, até encarei com apreensão. Outra coisa: é um facto que as contratações dos dois últimos anos foram muito fracotas. É minha convicção que, mesmo com as limitações orçamentais existentes, com trabalho competente se poderia fazer melhor.

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  3. Algumas breves notas para o debate e um apontamento inicial. Não defendo a saída de Paulo Bento. Dito isto, parece-me que o nosso treinador anda enredado, esta época, numa teia de equívocos e perdido num deserto de ideias, se me permitem veleidades literárias. Por outro lado, não é fácil jogar sismaticamente com nove jogadores, se considerarmos a qualidade exibida por Ronny e Purovic. Porém, o argumento do orçamento não pode colher. Porque a ser utilizado como termo de comparação terá de o ser também para baixo e não apenas para cima na tabela classificativa.

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  4. Caro Luisinho,
    Quando a gente compara os orçamentos do Sporting com os outros 2 grandes é porque ainda o consideramos um desses três. Presume-se que temos a obrigação de ficar sempre à frente dos outros.

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  5. Caro Raul Henriques,

    O meu comentário dirigia-se mais ao Visconde do que a si, no que à questão orçamental diz respeito. estou perfeitamente de acordo consigo quando diz que com trabalho competente se poderia fazer melhor. Onde eu queria chegar é que a uma análise pura e simplesmente economicista não justifica tudo. Nem sequer explica muita coisa. Porque se assim fosse o Porto nunca poderia ter ganho a Liga dos Campeões e o campeão era definido com base nos orçamentos. É certo que o dinheiro ajuda. Como dizia Carlos Queirós, o futebol é cada vez mais competitivo e os milhões que o Manchester gasta servem para marcar pequenas diferenças. Porém, com uma estratégia coerente e bem delineada, com honestidade e, aqui sim, alguma motivação e entusiasmo é possível fazer muito. Deixo os exemplos do Sevilha e do Lyon. Com orçamentos incomparavelmente inferiores aos dos clubes de elite europeus conseguem, não obstante, apresentar equipas competitivas. Penso que não será necessário recordar que o Lyon nos últimos anos foi "obrigado" a ceder jogadores como Essien, Diarra, Abidal ou Malouda. O mesmo se passa com o Sevilha (Sérgio Ramos, Reyes, Júlio Baptista). O estado actual do Sporting exige uma reflexão profunda e sobretudo uma democratização do clube, para que não possamos explicar as derrotas através ou de bodes expiatórios casuísticos ou constragimentos estruturais fatalistas. Por isso desde já deixo aqui o repto a todos os King Lizards, mas especialmente a si e a Master Lizard, para que se inscrevam no encontro que está a ser organizado pelo Sangue Leonino. O Sporting somos nós e está na hora de criarmos se não uma alternativa directiva pelo menos um conjunto de linhas de orientação pública do que deve ser o Sporting, algo aliás presente no manifesto do King Lizards.

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  6. O King Lizards vê este encontro com grande curiosidade e expectativa. Gostaríamos certamente de poder estar presentes.

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  7. Caro Luizinho
    Como é que se inscreve no encontro?

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  8. Caro Pedro Castaño,

    Deixo aqui a respectiva posta copiada na íntegra, já que o sangue leonino não permite links para postas particulares. Esta deve ser do início do mês de Janeiro:


    Numa bela iniciativa - denominada "Missão 2008" - lançada pelo Leãoconselheiro e pelo Verdão - habituais presenças deste blogue - propõe-se a realização de um encontro entre Sportinguistas que visa ser um espaço de debate onde se faça o levantamento de questões (centrais) que preocupem os adeptos, onde se discutam ideias e se encontrem caminhos; deverá elaborar-se ainda uma estratégia para que as ideias daí resultantes possam chegar à direcção e aos sócios através dos meios de comunicação social.
    Naturalmente que - segundo os proponentes - o objectivo será sempre construtivo e não destrutivo, dando um sinal claro de vigilância em relação a quem tem um compromisso perante os sócios.

    Todos os interessados em participar - e esperemos que sejam muitos - deverão manifestar o vosso interesse para verdao@netcabo.pt ou para o telemóvel 934245407 (por razões profissionais apenas depois das 18h30!).

    Segundo os proponentes a sugestão para o local deverá ser feita em conformidade com o número de possíveis interessados.

    Vamos a isto! O nosso Sporting não precisa de um, mas sim de TODOS os Sportinguistas!

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