segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

O papel do treinador

Há uma tendência recorrente nos sportinguistas em serem críticos ao ponto de serem os primeiros a desancar na equipa quando as coisas correm mal; por vezes mesmo quando correm bem. No jogo da taça contra o Aves as bilheteiras do estádio funcionaram miseravelmente e uma família – pai, mãe e vários miúdos, filhos e amigos – só se sentaram à minha frente no começo da segunda parte. O resultado estava em 2-0 e a equipa entrou no segundo tempo em poupança de esforços. De tudo o que se movimentava em campo, o pai da família, desatada a língua, só não disse mal da bola. Nani faz mais uma finta e “ganda c*****, queres levar a bola para casa?”; Custódio pega na bola e “pois, ganda pan******, passa pra trás, passa!”; Ricardo falha um passe longo e lá vai um “fdp do frangueiro; está-se mesmo a ver que és lampião!”; Paulo Bento faz uma substituição e vai disto “este c****** vai-me tirar o gajo que estava a jogar melhor!”, e assim por diante.
Com ou sem palavrões, é esta uma postura usual entre muitos adeptos do Sporting; dar tiros nos pés é o seu forte. Em vez de exaltarmos as qualidades que temos, entretemo-nos a chamar a atenção para tudo o que é menos bom.
Neste particular, um dos alvos preferidos é o treinador. Treinador que aguente dois anos, mesmo depois de ganhar um campeonato, é um milagre no Sporting.
Ora o nosso clube, depois de anos e anos a fazer despesas acima das suas posses, poderá estar no começo de uma fase de aposta mais consequente na formação. Isto exige maior continuidade dos treinadores, à semelhança do que é tendência nos grandes clubes ingleses, nomeadamente no actual Manchester United, com Alex Ferguson.
Se calhar, quando se tratou de substituir Peseiro, a minha opção não iria para PB; mas agora que é ele que lá está, é ele o treinador do meu clube. E, bem vistas as coisas, ainda bem! É que, apesar de “não ter conquistado nada de particularmente notável”, não concordo com a opinião de Master Lizard quando ele diz que “Paulo Bento não é (ainda) treinador. Nem é treinador para o Sporting. É um treinador imaturo, da navegação à vista.” Esta polémica com Peseiro só vem confirmar, pelo contrário, que PB está longe se ser um treinador “da navegação à vista”. Porquê? Porque a discussão se centra à volta dos méritos do modelo de jogo. O que significa que eles são diferentes. De facto, PB implantou no Sporting um modelo de jogo personalizado, bem definido, diferente do do antecessor. Se funciona ou não, é o que se poderá vir a constatar no futuro e não já. Até agora tem funcionado umas vezes e outras não. O que é natural numa equipa cujo núcleo construtor de jogo tem uma média de idades de 20 anos. Como refere Leão Verde (cujo comentário ao post de Master recomendo que leiam) “muito tem feito o Paulo Bento com o material humano de que dispõe”. Claro que PB ainda não tem a experiência que faz os grandes treinadores, mas está a fazer-se, a ganhar experiência, ao comando da também ela jovem equipa do Sporting. Como aqui há tempos escrevi, tenho esperança em que ele venha a ser o nosso Ferguson. Mas é preciso dar tempo ao tempo e não querer resultados imediatos, como exigem os adeptos mais coriáceos, secundarizando a razão à emoção.
É claro que essa tal aposta na estruturação da equipa a partir da formação também implica uma direcção que a sustente. Mas não confundamos as coisas, como me parece estar a fazer Master quando diz que PB “é, sobretudo, o treinador do ‘regime’”. Parece ser esta a verdadeira motivação de Master ao vir agora “deitar abaixo” o nosso treinador: opor-se à direcção do Sporting. Mas a frente de luta contra a política da actual direcção do Sporting terá de ser conduzida no campo da luta pelo poder executivo dirigente. Essa luta processa-se pela pressão que se consiga fazer no campo da opinião (como aqui a temos vindo a fazer) e na organização de alternativas que possam a vir a disputar o poder (aspecto em que, até agora, nunca conseguimos desenvolvimentos que se vissem).
Outro campo, aquele que aqui analiso, é o da equipa e do seu treinador. Este é um funcionário do clube que lhe paga, clube esse que tem uma direcção. Por mais que nos custe, é a esta direcção que ele tem de servir, o melhor que sabe e pode. Não é aquela de que nós gostaríamos, mas a que lá está (aliás eleita pelos associados). Não cabe ao treinador meter-se na política interna do clube e pronunciar-se a favor ou contra as medidas tomadas pela direcção; tem de as respeitar e servir o melhor que pode. O campo dele é o do trabalho, não o da política. É por isso que PB ao, por exemplo, conformar-se com a decisão dos seus superiores em não contratarem reforços em Janeiro, está a defender o grupo de trabalho. Ou acham que era motivador para os Buenos, os Alecs, os Yaniks, enfim, os jogadores que há, os que lá estão no balneário com o treinador todos os dias, ele vir dizer que os avançados que tem são uma merda, mas que infelizmente a direcção decidiu não fazer novas contratações e ele não tem outro remédio senão pô-los a jogar. Na defesa dos seus jogadores, os que lá estão, tem ele sido impecável, castigando-os quando tem de ser, mas estimulando-os sempre, contando com eles. Eles sabem que contam.

2 comentários:

  1. Vou apenas debruçar-me sobre as aptidões de PB Vs. plantel ao seu dispôr.
    É um facto que PB é jovem, e tem muito a aprender. É um facto que a reabilitação que levou a cabo na temporada transacta foi notável. É um facto que possui carácter, que é líder, e a sua voz prevalece dentro do balneário, e isto agrada a qualquer massa adepta.
    Há no entanto nuances, aqui e ali, que me levam a concordar que PB é um treinador condicionado, não apenas pelas dificulades financeiras, mas também por imperativos estratégicos. Concordo com o Master. É treinador do regime! E porquê?
    Se não fosse o regime, nomeadamente o seu amigo freitas, não estaria como treinador principal do SCP. A este propósito, remeto para declarações proferidas durante período de campanha, quando a sua popularidade estava nos píncaros, condicionando a sua permanência à de freitas.
    Depois, para a limpeza que processou no plantel, egendrada po freitas, da herança de peseiro e paulo de andrade. Quantos jogadores do actual onze base foram contratados por andrade? Onde está o Deivid? o Edson? Wender? Jalves? Manoel? o único que por lá se mantém é Tonel. Se o Moisés tivesse ficado, porventura faria companhia ao Alves.
    Independentemente da qualidade das compras de andrade, um verdadeiro gestor de activos, ou administrador de activos, deveria procurar sempre extrair proveitos dos mesmos, ou minimizar perdas relativas a esses investimentos. O que é que foi feito nestes casos? O único com o qual não perdemos escandalosamente dinheiro foi com o Deivid. Todos os outros casos foram de bradar aos céus, nomedamente o Wender e o Jalves! É que se já tinha sido mau ter pago 1M e 2,5M por cada 1 respectivamente, ter mandado para lá o 1º de borla 5 meses depois, e ter o 2º há 2 anos praticamente sem jogar, a ganhar €40 ou €50 mil/mês, é revelador de uma incompetência atroz. Se a isto juntarmos €1M pago pelo Abel no início desta época...
    Por último, vou casar os 2 pontos anteriores, tentando entender determinadas opções técnicas de PB. Qual a razão de Abel não jogar? Porque se pagou €1M por 1 LD, se a opção é Caneira? Será que foi pelo excelente desempenho durante os 6 meses anteriores do empréstimo, ou por ser jogador Gestifute do amigo do freitas, e toma lá 10% da comi ó amigo jorginho?Porque é que no Sábado estavam 2 LD no banco, Mgarcia e Abel, e nenhum joga? Porque é que se gastam 2 lugares de convocatória em 2 laterais? O que é que Abel fez para estar proscrito há 1 série de meses? E o heroi de Alkmaar? Nem a cheira! E o Jalves? O que é que fez para não merecer 15 minutos de confiança por jogo? O que é que Bueno tinha feito até ao jogo do nacional para jogar? Acaso é indisciplinado, bebe copos até às tantas? É gordo? Não será que 1 investimento de €2,5M por 50% do passe, deveria ser tratado de outra forma? Nadamos em dinheiro, para o esbanjarmos assim? Então um jogador que era de selecção nem na 2ª equipa joga? O que é que o Alecssandro fez para jogar com tanta regularidade no SCP? É cunhado do Deco, cabeça de cartaz da Gestifute de mndes? O que é que o Nani tem feito para ser titular? E a gestão de Cmartins? É obra ou não? É facto que não produz, foi uma nulidade em Paços, e então porque não dar oportunidade a JAlves? Porque é que foram buscar o Farnerud?

    Ora para quem teve tantas condicionantes para construir um plantel de qualidade, parece-me que se têm vindo a esbanjar alguns recursos, e a sub-aproveitar outros.
    É por isso, e por saber que PB não é burro, como Peseiro, que acredito em condicionalismos impostos por hieraquia superior, o que fazem de PB um alinhado, com regime, um refém da conjuntura.

    E Raúl, repare que é tão fácil de se justificarem os desaires, quando se camuflam as verdadeiras razões, com a juventude do plantel e do seu treinador. Para a maioria dos paineleiros e comentadeiros da nossa praça, onde há 15, com o Nacional, houve dedo de mestre na inserção de Bueno, houve Sábado inexperência de uma equipa e seu técnico, para segurar uma vantagem mais do que merecida!

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  2. Só duas notas: para o SCP ter um Ferguson seria necessário ter uma direcção que se empenhasse em reforçar a equipa e manter os jogadores bons ou vendê-los muito bem. Isso não há, e em Portugal seria aliás sempre mais difícil por o campeonato ser menos chamativo que o inglês; sobre um treinador que ganha campeonato precisar de milagre apra se manter 2 anos... está a falr do Boloni? É que esse ia em 14º à 3ª jornada, até comprarem o jardel, gordo como um porco, e apesar disso titular na equipa do científico dentista romeno. Quem ganhou o campeonato foi o jardel, não foi o Boloni...
    SObre o PB: se não ganahr a Taça, tem de sair. O problema é que talvez a seguir se lembrem de outro grande treinador, até tenho medo de pensar nalgum nme não vá cncretizar-se mais um qualquer a preço de saldo, que é o que importa para se poder fazer engócios imobiliários sucessivamente, sempre na maior...

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