domingo, 8 de abril de 2007

Os negócios do Sporting 1

Não foi o facto de ter passado a existir uma SAD do Sporting que conduziu à impune trafulhice e falta de transparência actualmente em vigor no Sporting; esta já existia antes e as fraudes eram muito mais difíceis de controlar e os vigaristas mais difíceis de escrutinar e punir. Saíam ilesos com muito mais facilidade. Foi num desses processos que quase estivemos a abrir falência.
Encaro a nossa fase Jorge Gonçalves como equivalente à fase Vale e Azevedo no Benfica; a fase Sousa Cintra equivale (em pior) à actual fase LFV deles.
Talvez a contracorrente aqui, no KL, acho que o Projecto Roquette (PR) teve muito mais aspectos positivos do que negativos.
O primeiro aspecto positivo foi desde logo safar o Sporting do pântano directivo em que tinha caído. Os mais evidentes dos outros: temos um estádio moderno e uma Academia internacionalmente reconhecida como modelar.
Evidentemente que isto teve enormes custos, que agora estamos a pagar. Mas, quanto a mim, a maioria destes custos deve-se não tanto ao próprio projecto, mas aos seus gestores.
Em posts anteriores tenho vindo a analisar alguns aspectos da nociva acção destes e procurarei continuar a fazê-lo em próximos, porque, como digo, é nessa acção, mais que no PrR, que tem estado a desgraça do nosso clube.
Neste post procurarei analisar um dos aspectos do PrR que mais gritantemente falhou: o de conter em si a perspectiva de desenvolver negócios não desportivos lucrativos para, dizia Roquette, com os lucros gerados nesses negócios, o Sporting manter uma autonomia financeira que o tornasse independente da bola na trave.
Ora esta perspectiva era defensável e há exemplos concretos de sucesso dessa estratégia. É o caso do F. C. Copenhaga (FCK), campeão da Dinamarca, (que defrontou e perdeu a pré-eliminatória com o Benfica). Em 1997 este clube estava à beira da falência. Oito meses após a entrada de um grupo de investidores (em que se incluía o actual presidente, Fleming Ostergaard) o clube era admitido na bolsa de Copenhaga e em 1998 comprou o estádio nacional Parken. “A partir do ano seguinte, o FCK passou a apostar na diversificação de actividades, englobado numa empresa que se chama Parken Sport & Entertainment A/S. Além de deter e explorar o estádio – que em 2001 passou a ter uma cobertura amovível, possibilitando todo o tipo de eventos e até espectáculos como o Festival Eurovisão da Canção – a Parken também detém uma aldeia de férias, um clube de futebol (FCK), um clube de andebol, um centro de conferências, três torres de escritórios e participações em grandes empresas de televisão e de venda de bilhetes”. Presentemente é um dos poucos clubes que, estando cotado em bolsa, apresenta resultados positivos consistentes, mais devidos às outras actividades da Parken que ao futebol. (Informação sobre o FCK colhida num artigo de Paulo Anunciação em “O Jogo” de 10/09/06).
É claro que nem a Dinamarca é Portugal nem os dinamarqueses são comparáveis aos portugueses. Começa logo pelas motivações de quem é encarregado da gestão. Se se privilegiam os próprios interesses em detrimento da entrega a um projecto em prol da instituição que era suposto servir-se, o projecto não pode ter sucesso.
Ora a gestão dos interesses do Sporting, tanto quanto é publicamente conhecido, foi feita com os pés. Tomemos como exemplo o Alvaláxia. Este foi um projecto que já nasceu torto (e quem torto nasce tarde ou nunca se endireita). Para se aumentar a quantidade de lugares do estádio, já que a comparticipação pública era feita em função do número de lugares, abdicou-se da construção do pavilhão desportivo previsto no projecto inicial, porque o espaço passou a ser insuficiente. O que é que fazemos, o que é que não fazemos, ocupou-se o espaço com um fun center. Não teve piada nenhuma pois foi o flop que conhecemos. As pessoas que tinham a coragem de atravessar, à noite, o ermo do espaço do antigo estádio para ir ao cinema sabem bem que era impossível aqui ter público. É claro que houve a incompetência do costume por parte dos poderes públicos (a Câmara, o Metro) para se avançar com as licenças de construção, segundo veio a público vários anos depois. Tudo em prejuízo do Sporting. Mas ninguém se lembrou de pressionar e meter a boca no trombone se não todos estes anos depois? Como é possível isto acontecer se, confessa agora FSF, andamos a perder dez mil euros de juros por dia!
O Alvaláxia é só uma das inúmeras gotas de água que constituem o oceano de incompetências das sucessivas direcções cooptadas.
À pala dos negócios extra-desportivos foram-se constituindo e desfazendo sociedades, pagando ordenados a administradores, gastando à tripa-forra o património do nosso clube.
Aqui chegados, é óbvio que o melhor era vender o património não desportivo.
(continua)

3 comentários:

  1. Caro Raul, tivesse o Sporting tido êxito desportivo nos últimos dez anos, e nesta altura não se falava em crise. O projecto Roquette falhou devido ao insucesso na vertente mais importante: o futebol. É do futebol que advém o grosso das receitas. O resto é uma ajuda, mas não paga a "renda". E é pena que o Sporting se tenha de desfazer do Alvaláxia agora que vai finalmente avançar o projecto imobiliário nas imediações do estádio. Vinha uma reportagem no suplemento "Imobiliário" do "Público" há três semanas, sobre o mega-projecto imobiliário para a zona do estádio antigo e do bingo, entitulado "Metropolis". Posso dizer que quando aquelas obras terminarem, o ambiente à volta do estádio vai ser um espectáculo. Aquela área vai ficar muito bonita. Pena é que vão ser outros a fazer dinheiro com o Alvaláxia. No entanto, também estão projectadas 10 mil m2 de área para o comércio. Eu pensava que tinha ficado acordado que a única zona comercial na área seria o Alvaláxia, mas parece que não será assim...

    Enfim, o Alvaláxia é passado. Eu quero é o futebol a ter vitórias e um pavilhão para as modalidades. Prometeram, têm de cumprir! É isso que temos de "cobrar". E quem sabe, será já este ano que vamos festejar alguma coisa!

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  2. E também devemos um louvor ao dr. diogo gaspar ferreira, pela enorme contributo que deu, enquanto responsável do nosso clube, para a concretização da venda dos terrenos do antigo estádio, à MDC. Oxalá tudo esteja benzinho com ele, há já uns tenpos que não o vejo pelas nossas bandas, e que tudo esteja a correr pelo melhor, em termos profissionais, na MDC.
    As más línguas que refreiem os seus ímpetos que este dr. apenas ingressou na MDC, a seguir à escritura do negócio, para garantir a sua consumação efectiva, sendo ao que me consta, das personalidades mais activas na tentativa de viabilização das licenças de construção, junto da CM Lisboa e do Metro.
    Um grande bem haja dr., per si e per todos os seus amigos que o lá puseram e per aqueles que por lá se mantêm.

    cenademaceiros

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  3. Personalidades como essa acotovelam-se para entrar no memorial dos ilustres do Sporting... Há mesmo quem diga que aqueles paineis que se encontram na entrada do estádio, com os nomes daqueles que como eu compraram um magnífico Lugar de Leão, vão em breve ser substituidos por outros, produzidos em materiais muito mais nobres, contendo a lista de nomes de todos esses grandes beneméritos do Sporting!

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