sábado, 2 de junho de 2007

Mau negócio

Já aqui por diversas vezes exprimi a opinião sobre o valor das SAD. O futebol nacional é um poço de problemas e parte desses problemas tem as suas raízes nos problemas dos clubes. As SAD foram introduzidas como forma de ajudar a solucionar os problemas dos clubes, mas torna-se cada vez mais claro que, ao contrário do que seria de esperar, a solução virou problema. Embora haja certamente quem tenha tirado vantagens desta situação...
Um trabalho da Lusa, reproduzido hoje pelo Público, diz claramente: as SAD são um mau negócio em bolsa!
Os defensores do conceito das SAD devem refletir profundamente sobre esta conclusão.
Citando um administrador da FCP SAD, o referido artigo lembra que as SAD "não têm conseguido saber atrair investidores porque não tem conseguido equilibrar as despesas em função das receitas", daí "não gerarem lucros nem distribuirem dividendos." As SAD são um mau negócio e este há-de saber do que está a falar...
Claro que na génese de todas estas dificuldades está o carácter especial destas "empresas" que são os clubes de futebol, o seu "produto" e a clientela, real e potencial, que visam. Não é necessário ser gestor ou economista para perceber isto. A transposição mecânica de fórmulas utilizadas no universo empresarial para o universo dos clubes só pode conduzir a um rotundo fracasso.
Eu, aliás, gostava de ver certos gestores (que gravitam entre o universo empresarial e o universo desportivo) em acção nas suas empresas e comparar as suas decisões num e noutro caso... E gostaria de poder avaliar o grau de tolerância que, também num caso ou noutro, existe por parte dos accionistas para com as decisões de gestão tomadas segundo as regras do universo empresarial e do universo desportivo. Deve ser lindo...
Os clubes necessitam de boas regras de gestão, é certo, mas a sua aplicação não depende de qualquer enquadramento institucional especial. Nada impede os clubes, no quadro da sua organização tradicional, de as aplicar. A criação das SAD veio apenas criar mais um elemento de perturbação, numa atmosfera já de si profundamente perturbada. "Habituadas a viver acima das suas posses, as SAD vão acumulando prejuízos, que tentam disfarçar anualmente com a venda dos passes de um ou outro jogador, tornando-se ainda menos atractivas aos olhos dos investidores", nota o articulista. No caso do Sporting, recorde-se, a SAD multiplicou por quatro o défice que o Clube trazia da gestão Cintra... A receita proveniente da venda de Nani não passou (as palavras são do presidente da SAD...) de um "balão de oxigénio."
Na minha opinião, seria útil criar um estrutura totalmente profissionalizada ao nível supra-clubístico (uma Liga de verdade, organizada em moldes sérios...), mantendo os clubes as suas estruturas tradicionais. O que não podemos continuar a ter é administradores de massa falida travestidos de gestores, nem travestis de associações "empresariais", administradas por travestis de dirigentes desportivos, como é o caso da LPFP.
Eu voto não à Sporting SAD! E voto sim à implosão da actual Liga...

5 comentários:

  1. Tocas num assunto me parece da maior actualidade, Master. O mesmo mereceria um tratamento mais estruturado, o que espero vir a fazer futuramente. Entretanto aí vão algumas reacções ao que escreves.
    A primeira refere-se às recorrentes comparações com o tempo de Sousa Cintra. Na minha opinião o grande mérito que pode ser atribuído às SAD é precisamente o de terem acabado com o regabofe descontrolado das "gestões" desses tempos; pelo menos agora há um controlo maior, que dificulta as vigarices. Se houvesse SAD no Benfica (e falo desse caso porque foi o único, dos múltiplos de que se suspeita, em que houve condenação jurídica) Vale e Azevedo não poderia fazer as trafulhices que fez (está ainda por esclarecer, e nunca o virá a ser, o destino da grana da "operação coração" e da outra sobre aquele jogador brasileiro vesgo de que agora não recordo o nome), porque as contas são permanentemente auditadas e controladas.
    Por mais que sejam imperfeitas, as SAD são uma solução melhor que a anterior e, quanto a mim, inevitável nos tempos que correm.
    Também não me parece que se possa inferir das declarações do administrador da FCP SAD, que, lá porque as SAD "não têm conseguido saber atrair investidores porque não têm conseguido equilibrar as despesas em função das receitas", e consequentemente "não gerarem lucros nem distribuirem dividendos", se possa inferir que ele afirma que "as SAD são um mau negócio". O que ele diz é que as SAD têm de fazer, e não fazem, uma gestão que consiga "equilibrar as despesas em função das receitas" só assim conseguindo "atrair investidores", porque poderão gerar lucros.
    Aqui chegamos ao ponto, que, se bem li, é o fulcral do teu artigo (e sobre o qual tanto tens batalhado, aqui no KL) e em que estás coberto de razão: "A transposição mecânica de fórmulas utilizadas no universo empresarial para o universo dos clubes só pode conduzir a um rotundo fracasso".

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  2. O comentário vem via Londres? Ora viva o cyberspace então!
    Obrigado pelas achegas. Isto merece uma enorme reflexão de facto, como dizes. Concordo em absoluto contigo que as SAD constituiram o instrumento que introduziu (à força!) critérios de gestão mais rigorosos nos clubes. Isso é um facto. Mas, então como explicar o aumento do défice do Sporting?
    Parece que a única diferença é que agora podemos saber porque é que temos défice (e crescente!)...
    Continuo a manter que esses bons critérios de gestão (está escrito no post) não têm de passar por fórmulas SAD (SADmasoc..!) e que a introdução destas deu lugar a tantos efeitos perversos que eu, por mim, preferia voltar à fórmula antiga do Clube, com boa gestão e com umm projecto. Como está implementada, a fórmula SAD só serve para engordar gulosos.
    É a minha opinião e espero ser rebatido, em debate alargado (porque a questão merece e é central!) comm todos aqueles que amam o Sporting. De boa fé e sem demagogias!
    Mas, tudo isto já tu sabes. Aproveito para te mandar um abraço amigo.

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  3. Só mais uma achega. O fundo da questão é que as SAD não são apelativas e a prova é a queda do valor das acções. Não sendo apelativas não são solução.
    Quanto às afirmações do administrador do FCP SAD, apenas justificam esta conclusão. Não disse que foi ele que tirou a conclusão. As afirmações dele é que parecem justificar a conclusão. E não são minhas, são de um adminsitrador de uma SAD importante.
    Por acaso, já agora, nunca ouvi nenhum administrador da Sporting SAD ser tão transparente.

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  4. From London with love, caro Master.
    Não é que eu seja um defensor das SAD, tout court. O que acho é que não há volta a dar-lhes. E no caso português, se calhar ainda bem. Porque ficam mais difíceis desmandos tipo Vale e Azevedo (falo neste porque foi o único que foi condenado; e mesmo assim falta saber para onde foram os dinheiros de coisas que nunca se provarão como a "operação coração" e o "volta Amaral", casos levantados por outros benfiquistas, de que nem sequer há registos). Quanto ao facto de ter havido prejuízos recorrentes no Sporting desde que há SAD, tal não é necessariamente imputável a esta, e estou convencido de que, numa gestão de tipo Sousa Cintra ainda teria sido pior; nada me prova nem isto nem o contrário.
    O mal não está nas SAD, mas na qualidade da gestão; e esta tem sido má no Sporting das SAD.
    Agora um facto é indesmentível: com as SAD há muito mais controlo sobre as contas dos clubes. Por exemplo, nos casos das recentes transacçõe de Anderson e Nani, os respectivos montantes vieram escarrapachados nos jornais, emanados de comunicados dos clubes respectivos.
    Já agora, e socorrendo-me do Record de 1/6, aproveito para esclarecer sobre os lucros destas operações: dos 30 milhões que o MU deu por Anderson, 6 foram para a Gestifute e, tendo o Porto investido 8,5 no jogador, o lucro bruto foi de 15,5 milhões; dos 25,5 milhões que o MU deu por Nani só 5% foram para o Real Massamá, ficando 24,225 para o Sporting. A notícia é omissa quanto a comissões de intermediários. Quanto a mim foi um excelente negócio para o Sporting, como é também do interesse dos bancos, que assim recuperam o capital emprestado com maior rapidez.
    A minha oposição ao modo de gerir o Sporting situa-se a um nível mais estrutural e prende-se com o rumo que FSF parece pretender para o clube: descapitalizar o clube em favor da SAD, transferindo para esta o património real (estádio, Academia) para tornar mais apetecíveis as acções a pôr no mercado; até aos 51% numa primeira fase, para depois convencer os sócios de que o controlo é possível com uns trinta e tal por cento, assim abrindo a porta a um qualquer camone cheio de papel ou a um russo que pretede fazer uma lavagem de dinheiro.
    É aqui que a discussão deve ser colocada, porque é isto que a gente não quer para o nosso clube!

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  5. Nas contas que são feitas sobre o valor do Nani tem de se incluir a amortização da Academia. Esta estrutura é uma das causas do enorme passivo que o Sporting tem. Considerar que o Nani "não nos custou nada", que não há uma percentagem singificativa de investimento a deduzir naquela receita e que os 25 milhões são tudo lucro, sem custos, ou com custos marginais é um erro monumental! Façam as contas como deve ser e depois a gente fala!
    O percurso do Sporting como clube de formação é para já pouco mais que um projecto...
    Cada jogador vendido pelo Sporting custa, por enquanto, um balúrdio monumental de massa. Vocês não ouvem o que diz o presidente: a venda do Nani foi um "balão de oxigénio"...

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