sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O bom e o mau no Projecto Roquette (2)

Arrolei no post anterior sob este título os aspectos negativos do Projecto Roquette. Mas este projecto e, mais geralmente, a entrada em cena de Roquette, teve também muitos aspectos positivos para o Sporting. As ideias que vou agora desenvolver já eu postei há uns meses atrás:
- Continuo a achar que o nosso clube entrou numa nova era com Roquette: da era do populismo com patos-bravos como protagonistas, passou-se para um tempo em que pelo menos começou a haver projectos a ser executados e não sucessões de iniciativas casuísticas e gamanços daqueles que nunca se chegam a provar (com a excepção do do Vale). Como disse no citado post, “encaro a nossa fase Jorge Gonçalves como equivalente à fase Vale e Azevedo no Benfica; a fase Sousa Cintra equivale (em pior) à actual fase LFV deles”. Acho portanto que, se nós estamos mal, eles quanto a este aspecto (e não só) ainda estão pior. Não estou a defender que tenhamos chegado ao paraíso, mas com gestões do tipo populista ainda estaríamos na pré-história do séc. XXI.
- No aspecto do controlo das contas e dificultação dos desvios de fundos para proveito próprio, a constituição da SAD foi um instrumento importante, como venho defendendo (v. também os comentários do link). Como aí digo, não sou um entusiasta deste tipo de capitalismo aplicado ao negócio do futebol, mas acho que ele é inelutável e irreversível. E Roquette foi o primeiro a, percebendo isto, conseguir implementá-lo. Quando tratar do assunto “adeptos” procurarei dizer qual o tipo de resposta que estes (nós) podem dar para que o negócio não engula a paixão.
- No aspecto património, as vantagens são indiscutíveis: o Sporting possui actualmente um estádio moderno e funcional e um complexo desportivo em que funciona uma Academia que tem sido um viveiro de talentos elogiado por toda a Europa.

Mas, dir-me-ão, se é tudo assim tão bom porque é que estamos cheios de dívidas e nunca mais conseguimos entrar numa senda de vitórias?
Por dois tipos de razões: pela má gestão do Projecto (como em parte referido no post anterior sob o mesmo título deste) e pela batota feita pelos nossos mais directos adversários.
De facto, não era o Projecto que era mau, mas sim o modo como ele foi implementado. Como desenvolvi no post de Abril do ano passado atrás citado, “um dos aspectos do PrR que mais gritantemente falhou” foi o que tinha a ver com “a perspectiva de desenvolver negócios não desportivos lucrativos para, dizia Roquette, com os lucros gerados nesses negócios, o Sporting manter uma autonomia financeira que o tornasse independente da bola na trave”. Desenvolvia eu depois o exemplo do Copenhaga como um projecto semelhante que teve sucesso, para provar que a ideia não era má, em si. O problema está em que os portugueses não são como os dinamarqueses e o que resulta ali, pode não resultar aqui. A minha tese é de que aqui não resultou por defeito das pessoas que foram chamadas para implementar as ideias de negócio; foi isto que impediu as empresas para tal constituídas de terem sucesso. Assim, “à pala dos negócios extra-desportivos foram-se constituindo e desfazendo sociedades, pagando ordenados a administradores, gastando à tripa-forra o património do nosso clube”.

Já com isto escrito (e entretanto não publicado por eu ter tido problemas informáticos ao mudar de operador) tive conhecimento do Manifesto SCP – Mais e melhor Sporting, o qual exprime com muita exactidão o que penso acerca deste assunto. Transcrevo um resumo, com a devida vénia: “O Projecto Roquette errou na gestão. Exactamente aquilo que deveria ser a sua mais valia foi o seu maior pecado. Foi incompetente. Construiu-se um Estádio que em vez de gerar lucros gerou prejuízos. As empresas que deveriam gerar lucros geraram prejuízos. A área comercial, Alvaláxia, que deveria gerar lucros acumulou prejuízos. Os gestores «altamente profissionais» mostraram incompetência”.

5 comentários:

  1. Não houve incompetência. Houve gestão danosa. O que se passou com a venda dos terrenos foi demasiado grave para ser dizer que foi mera incompetência. Idem com as contratações no futebol. Receber comissões de empresários de futebol é incompetência ou corrupção? Negociar a venda dos terrenos por um preço abaixo do mercado e em seguida ir trabalhar para essa mesma empresa é incompetência ou corrupção. O Sporting não tem este passivo por ter tido azar! Até parece que não sabemos como se fazem as coisas em Portugal...

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  2. Caro lionheart:
    Este post é continuação de um anterior com o mesmo título em que insinuo poder ter havido falcatruas. Por mim, estou grandemente convencido de que houve. Infelizmente não posso provar, nem sei de coisas concretas. Se o meu amigo sabe, deve denunciá-las. Informe-nos aqui, por favor, quem é que recebeu comissões de empresários por transferências no futebol. Também não sei quem é que, tendo "negociado a venda dos terrenos", foi trabalhar para a empresa compradora. Nestes casos deve-se sempre chamar os bois pelos nomes e ansioso estou eu por desmascarar toda essa corja que se anda a servir do meu querido Sporting. Diga-nos quem foi!
    Em lado nenhum afirmo ou insinuo que tenhamos o passivo por azar; isso não é um tipo de explicação que, racionalmente, se possa dar. Presumo, pois, que essa do azar não se refere ao meu texto.

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  3. Raul: Não tenho provas materiais, mas há factos que são públicos. O contrato do Sporting com a MDC (multinacional que comprou os terrenos) foi assinado por Diogo Gaspar Ferreira, então Director-Geral da SAD. Depois de sair do Sporting, ele foi para administrador da MDC em Portugal, e agora até já é presidente executivo do Conselho de Administração. Se isto não foi tráfico de influências, o que foi? Quem tem de investigar estas coisas são as autoridades! Nós só temos OLHOS na cara, não é?

    Outro exemplo. Por acaso pensas que os clubes sul-americanos de onde eram provenientes jogadores como Kmet, Gimenez, ou Carlos Miguel, os mais caros e também os piores que já passaram pelo Sporting, receberam o dinheiro todo que saiu dos cofres do clube? A maior parte foi desviada para offshores em beneficio de quem puxava os cordelinhos na SAD nessa altura. E foi nessa fase que a SAD do Sporting se começou a enterrar. Mas provavelmente esses crimes até já prescreveram, portanto isto já nem tem consequências legais. Mas era bom que os sócios soubessem de onde vêem as dívidas.

    http://corporacoes.blogspot.com/2006/04/carta-endereada-carmona-rodrigues.html

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  4. Boa, Lionheart! Aqui está, preto no branco, que quem fez negócios pelo Sporting para depois ir trabalhar para a outra parte foi Diogo Gaspar Ferreira.
    As outras referidas suspeitas também eu tenho vindo a manifestar aqui no KL em vários escritos. E também eu anseio pelo desmascaramento de quem se serve do Sporting em vez de o servir.

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  5. Falando do Manifesto que o Raul cita no final do post, parece que estamos afinal todos mais ou menos de acordo.
    E parece que o que foi sendo escrito aqui no KL ao longo destes anos foi absorvido. Ao ponto de já fazer parte do discurso natural de todos...
    Fico contente.

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