quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Rasteiro ou rasteira

Sempre tive e tenho consideração pelo Presidente João Rocha. Acho que podemos classificar os anos da sua gestão como sendo de um Sportinguismo com fogo de artifício. Isto porque, nessa altura, havia razões para festejo e porque tínhamos Sportinguismo com alegria! Os anos de Rocha deixaram uma marca indelével de vitória, de ecletismo, de equilíbrio e de tranquilidade face ao futuro.
Exactamente o contrário do que vemos hoje.
Por tudo isso, acho surpreendente que o mesmo João Rocha venha agora exortar o actual presidente a recandidatar-se. Na falta de alternativa, diz ele, Franco deve avançar.
Sei que a ideia que defendo não é consensual (Raul, aguarda-se a saraivada...), mas o melhor que podia acontecer ao Sporting era que Franco se afastasse. Renunciar a qualquer tentação de recandidatura era um acto higiénico. Para ele e para o Sporting. E, ao deixar desde já claro que não se recandidatará em nenhuma circunstância, Franco provaria, em definitivo, uma coisa que cada vez me deixa mais dúvidas: o seu Sportinguismo. A menos que Franco já nem se preocupe em demonstrar sequer que é Sportinguista...
O problema do Sporting não é o da falta de "alternativas". O problema do Sporting é o facto dos Sportinguistas (os Sportinguistas!) não saberem o que querem. A questão da alternativa não passa de, como se diz na gíria, "chutar para canto".
Não há "alternativa" que substitua uma atitude activa relativamente aos problemas do Sporting e não há "alternativa" que nos possa responder a esta pergunta: que Sporting queremos? Porque, em alternativa (!), há quem saiba e há quem explore isso com mestria, contra o Sporting e contra os Sportinguistas. A ausência de alternativas e o debate daí decorrente funcionará, na minha opinião (e estou aberto naturalmente a discutir essa questão) como forma de ajudar os Sportinguistas em geral a perceberem o que está hoje em jogo no Clube. As verdadeiras alternativas surgirão da discussão, não da espera.
Depois disso a escolha seria informada. Até lá continuamos a ter uma fantochada em vez de uma verdadeira democracia leonina.
Do alto do seu estatuto quase senatorial, João Rocha devia meter o dedo na ferida, ajudar a abrir caminhos e horizontes, não promover o discurso redutor. Neste sentido o voo afigura-se rasteiro.
A menos que... seja rasteira.
Ao empurrar e promover Soares Franco, tendo em conta o panorama paupérrimo que resulta da gestão "franquista" --limitada a uma redução inconsequente e sem glória de um passivo, que tem responsáveis que deviam ter sido por ele incriminados por o terem gerado...--, da banhada desportiva e o afundanço do Clube como referência nacional, Rocha poderá estar a preparar habilmente um rico funeral para o fogoso presidente do Sporting...
Receio que a balança penda mais para a primeira destas hipóteses, mas a ver vamos.

2 comentários:

  1. De férias em Londres, resolvi entrar num período sabático no que respeita aos assuntos que normalmente assolam o meu dia a dia.
    Interrompo-o circunstancialmente para te dizer, caro Master, em relação à tua afirmação de que "As verdadeiras alternativas surgirão da discussão, não da espera", que não acho que estes sejam as duas atitudes que se apresentam em alternativa; a atitude que perfilho é de discussão activa. Isto é, temos de avançar, pela discussão dos assuntos (circunstanciais ou estruturais, sobretudo estes) que se colocam, para a construção um "programa de governo" do Sporting. Mas não podemos ficar estáticos à espera de que apareça a alternativa de figura que corporize esse projecto.
    As duas componentes, de conteúdo e de sujeito, são fundamentais; não adianta ter um programa e ficar à espera de que o resto se resolva por si. Não resolve.
    Tão necessário é o programa como quem o corporize; e um não existirá sem o outro.

    ResponderEliminar
  2. Não vejo em que é, no essencial, as nossas opiniões diferem. Continuamos no mesmo fuso horário... Quando que "As verdadeiras alternativas surgirão da discussão, não da espera" preconizo isso mesmo: discussão activa!
    É o que temos andado, continuamos e continuaremos a fazer: suponho.
    Há, contudo, uma pequena subtileza que me causa alguma confusão: como é que conciliamos estas duas questões: ter uma atitude proactiva (ou pró-activa!) e ficar passivamente à espera de "quem corporize" o programa?
    Esperamos por Godot? Esperamos pelo salvador? Esperamos?

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.