segunda-feira, 13 de março de 2006

ELEIÇÕES JÁ! (1)

O chamado "Projecto Roquete" (PR), ao pretender que o Sporting não estivesse dependente da "bola na trave", preconizava a existência de bens que, correctamente explorados, haveriam de proporcionar receitas que ajudassem a financiar as equipas de futebol.
O que, de facto, se passou foi bem diverso.
Por um lado, ao fazerem-se as infra-estruturas desportivas (estádio, Academia) sem capitais próprios, ficou o Sporting a ter de pagar juros anuais de muitos milhões de euros.
Por outro lado, as sucessivas, desastrosas, gestões foram conduzindo o Sporting à actual situação económico-financeira:
Ao venderem-se os terrenos do antigo estádio não se acautelou a obrigatoriedade de construção imediata e o resultado é que o estádio ficou implantado no meio do nada e com um baldio a um dos lados;
Nestas condições o Alvaláxia, de fun center que era para ser, transformou-se num nightmare center para os sportinguistas, pois, sendo um enorme flop comercial, em vez de gerar receitas é mais uma fonte de despesas;
O bingo, bóia de salvação de tantos clubes, é no Sporting mais uma dor de cabeça que nos limpou 630.000 € só no último ano;
As modalidades, que deviam ser auto-suficientes, continuam a dar generosos prejuízos;
A Academia contribui para a desgraça, soube agora pelos jornais, com mais 2,5M;
Nos jogadores que comprámos (a maioria deles nem sequer joga no Sporting) custou-nos mais 1,2M que os que vendemos (sem contar com os reforços de Inverno), o que quer dizer que, se estivéssemos a jogar com o Roca e o Enak ainda tínhamos poupado 1,2M;
Etc., etc..
Na sequência de todos estes insucessos (e a enumeração está longe de ser exaustiva, mesmo falando apenas do que é público) houve que negociar com a Banca a enorme dívida acumulada. Foi assim que o Sporting ficou na mão dos bancos, aceitando condicionar o reforço da equipa de futebol à cláusula (esta sim, leonina) de ter de realizar 5,5M todos os anos; o que se traduz em só se poder adquirir reforços se se vender acima deste montante e só na medida da diferença. Mas a gestão tem sido de tal ordem, que nem mesmo os compromissos assumidos são cumpridos e, em 2005, não só não se abateu os tais 5,5M à dívida, como, como escrevo acima, ainda se gastou mais 1,2M.
Mais tarde ou mais cedo isto tinha de ser pago, mas lá há a chatice dos estatutos e de ter de levar a coisa à Assembleia-geral. Portanto, lá tem a Direcção de vir convencer os sócios de que depois da venda do património é que vai começar a nova vida do Sporting e finalmente vamos aceder aos amanhãs que cantam. Como se não tivesse nada a ver com o passado desastroso que provocou esta situação.
Ora, esta Direcção resulta de sucessivas cooptações, muitos dos dirigentes no activo assinaram por baixo as sucessivas decisões deste processo e não pode pretender lavar as mãos da parcela de responsabilidade que tem no desenvolver do mesmo. Não serve de atenuante o argumento de FSF de que não participou nas decisões entre Junho e Dezembro de 2005 e que, portanto, não tem responsabilidade no acordo com os bancos.
Em conclusão, esta Direcção não dá quaisquer garantias de gerir bem a massa monetária gerada por uma eventual venda de património.
Esta é uma questão.
A outra prende-se com a questão da venda do património não desportivo (VPND), que é aquilo que presentemente foi posto à discussão e que constitui o único ponto da ordem de trabalhos da AG de dia 17. É uma questão que se traduz na abdicação de uma das componentes do PR, a saber, a que se referia à exploração de componentes não desportivas para obter dinheiro para financiar a parte desportiva.
Quanto a isto a minha posição é de que se chegou a uma situação de facto em que a venda é inelutável. Porquê?
Em primeiro lugar porque assim como os sapateiros não se devem pôr a tocar rabecão, também os gestores de empresas de desporto não se devem pôr a gerir centros comerciais, bingos ou clínicas médicas. Não me custa nada a acreditar que tenha havido incúria e inépcia dos dirigentes, as quais devem ser esclarecidas; mas o ponto central desta questão é que Roquette se enganou ao considerar que era desejável incluir estas valências num grupo empresarial do Sporting. Existem entidades especializadas para a gestão seja de áreas comerciais seja de clínicas e, manifestamente, tal não é o caso do Sporting.
Depois por causa da situação financeira que a própria Direcção agora nos apresenta em números assustadores, ao mesmo tempo que nos revela que, para obter financiamento dos bancos, com estes acordou uma série de regras de gestão. Que não estão a ser cumpridas, o que pode levar a uma denúncia do contrato por parte dessas entidades; o que conduziria o Sporting a uma situação de insolvência, a curto prazo.
Por mais que custe a quem não consegue ver estas coisas desapaixonada e racionalmente FSF tem razão quanto à necessidade da venda de PND para a sobrevivência do clube. (Ver, a propósito, aqui).
A minha posição é exactamente a oposta da expressa por "Violino" , que diz discordar da proposta de FSF, mas que, se calhar, lhe vai dar o voto; eu acho a proposta de FSF boa, dum modo geral, mas não tenho confiança nele para gerir os fundos resultantes da sua implementação e, portanto, não lhe darei o meu voto.
Espero é que entretanto se apresente um candidato que não traga consigo, nem o lastro dos últimos 10 anos de incompetência (com suspeitas de aproveitamento pessoal da parte de alguns dos intervenientes), nem nódoas no currículo como a pertença ao pior dos elencos directivos do clube (Abrantes Mendes), nem a manifesta incapacidade pessoal para o cargo, como Dias Ferreira.
Na minha opinião aquilo em que se deve centrar a discussão é o timing da venda e quais os bens a incluir nela (tenho dúvidas quanto ao Health Center, mas não possuo informação suficiente). A discussão não deve, pois, ser colocada no plano de ser ou não favorável à venda – é para este contexto que FSF e a sua Direcção nos querem empurrar – mas sobre quando, e sobretudo quem é que procederá a essa venda e gerirá o seu produto.
Se, como sugerem alguns, a coisa traz água no bico e o que se prepara são negócios escondidos a favor de interesses imobiliários estranhos ao Sporting, o que temos a fazer é estudar uma táctica em relação à AG de 17.
O ponto único da AG de 17 consiste em «deliberar sobre alienação de imóveis não afectos a uso desportivo do Clube, designados por Edifício Visconde de Alvalade, Alvaláxia, Health Clube e Clínica, que corresponderão, após outorga da escritura de constituição da propriedade horizontal, às fracções "D", "G", "C" e "F" do denominado Complexo Multidesportivo do Sporting Clube de Portugal "Alvalade XXI"» (ver aqui).
Penso que a posição correcta a tomar deveria ir no sentido de fazer adiar a decisão sobre a tal alienação para depois de eleições, as quais deveriam ocorrer tão depressa quanto possível.

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